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    Comércio

    Conflito entre Rússia e Ucrânia traz mais incertezas para a economia mundial


    Por: philos atendimento

    09/03/2022 às 19h35

    Brasil será prejudicado pela alta volatilidade cambial e a inflação. Mas o aumento dos preços das commodities pode trazer ganhos aos exportadores

    A Rússia invadiu a Ucrânia. Não sabemos quando vai terminar essa grande catástrofe. Contrariando previsões mais otimistas, que consideravam que a ameaça de invasão seria apenas um instrumento de pressão para frear a aproximação de Kiev com a Europa Ocidental e sua eventual adesão à OTAN, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, tropas russas entraram na Ucrânia e, no momento, o mundo acompanha com apreensão.O custo humano de qualquer conflito como esse é invariavelmente alto. Assim como é alto o custo político para os países diretamente envolvidos na situação, e o custo econômico, que pode afetar fortemente até aqueles que não têm relação alguma com o conflito, alterando preços do petróleo, gás natural e alimentos, encarecendo os preços das commodities, e gerando mais inflação, assunto que vamos abordar nesse artigo.O peso geopolítico da RússiaA Rússia, além do seu passado como União Soviética, que ainda está presente no imaginário de muita gente, chama mais a atenção do mundo pela enorme extensão territorial, peso militar, diplomático e político do que pelo tamanho de sua economia.Com um PIB de 1,48 trilhão de dólares, é o 11º país mais rico do mundo, superando o Brasil, mas sendo superada nesse quesito por tigres asiáticos como a Coreia do Sul e potências emergentes como a Índia.Entretanto, olhando mais fundo nos números para entender como são formados, em alguns aspectos a Rússia pode somente ser considerada profundamente integrada com outros países, pois é uma grande produtora e exportadora de petróleo, gás natural, fertilizantes e trigo.São produtos tão importantes para tantos países que criam uma situação bastante paradoxal. No complexo, altamente volátil e totalmente imprevisível cenário geopolítico do Leste europeu nesse momento, não resta alternativa honrosa às chamadas potências ocidentais além de impor pesadas sanções econômicas à Rússia.O conflito Rússia/Ucrânia conseguiu unir a Europa e os Estados Unidos.Já foram tomadas diversas ações para bloquear fundos econômicos russos. A União Europeia planeja ampliar as sanções contra a Rússia com a remição do Status de Nação mais favorecida no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que significa que as exportações russas poderão ser discriminadas com barreiras tarifárias e não tarifárias.A Rússia foi submetida a uma crise de pagamentos externos. O país ficou sem acesso a parte de suas reservas em moeda forte, por decisão da União Europeia, Estados Unidos e aliados. Além disso, foram bloqueados os bancos russos no Sistema Swift (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), com sede na Bélgica. Trata-se de um consórcio ligando mais de 11 mil instituições financeiras que operam em mais de 200 países e territórios. As exceções são o petróleo e o gás, vitais para os países europeus e demais.

    Fazer menos do que isso seria politicamente desastroso, tornando a situação mais difícil do que já é. Mas ir além disso seria simplesmente impensável, com consequências imprevisíveis. Nenhuma delas positiva.

    Entretanto, seria uma imensa ingenuidade acreditar que tais sanções, por mais duras que sejam, já não façam parte do cálculo de ganhos e perdas feito pela Rússia antes de tomar o rumo que tomou. Existe a possibilidade real de que os países que dependem fortemente dos produtos exportados pela Rússia, inclusive o Brasil, sejam os grandes afetados por essa situação.

    A presença da Rússia na economia mundial

    Além do seu valor em si, medido em dólares, produtos exportados pela Rússia são itens de primeira necessidade em muitos países, afetando a economia, a locomoção, a alimentação e, nos países de inverno rigoroso, o aquecimento de empresas e residências.

    Cerca de 40% do gás natural e 25% do petróleo consumido na Europa vêm da Rússia. Se em uma situação normal essa dependência já seria muito significativa, o processo de mudança para uma matriz energética mais limpa tentada pelos países europeus, que incluiu o desligamento de centrais nucleares, a tornou ainda maior, porque as tecnologias limpas e seguras ainda não se mostraram capazes de um fornecimento estável e confiável.

    Em um estágio anterior da crise atual, quando Moscou reconheceu a independência de províncias ucranianas pró-Rússia, a Alemanha suspendeu o gasoduto russo Nord Stream 2, que ligava os dois países e era razão de polêmicas entre os países europeus.

    Impacto nos preços do petróleo e gás natural

    O preço do barril de petróleo superou, na data da invasão, os US$ 100. E pode avançar bem mais caso a Arábia Saudita não aumente sua produção diária. Ocorre que o país do Golfo Arábico é um aliado da Rússia na OPEP, e, pelo menos em um primeiro momento, dificilmente irá contra os interesses russos.

    Sanções contra a Rússia podem afetar também a oferta de gás natural, especialmente na Europa. Embora países como o Catar também sejam grandes produtores, e possam aumentar a oferta do produto, se assim desejarem, existe ainda uma questão logística, que é levar o gás liquefeito até os grandes centros consumidores, que não tem como ser resolvida rapidamente.

    O peso da Ucrânia na economia mundial

    Com um PIB de US$ 155,6 bilhões, a Ucrânia não tem o mesmo peso geopolítica da Rússia, mas por ser o palco do conflito, obviamente o mundo não poderá contar, por um bom tempo, com os produtos que o país do Leste europeu exporta, e isso também terá um impacto econômico.

    17% do milho consumido no mercado mundial vêm da Ucrânia, ficando atrás em exportações apenas dos EUA, Brasil e Argentina. Juntas, Ucrânia e a Rússia exportam 30% do trigo comprado no mundo. Essa proporção chega a 50% nos mercados do Oriente Médio e Norte da África.

    A posição da China 

    Conflitos militares dentro da Europa, ainda mais com a participação de um país da importância da Rússia, não têm como ser vistos como uma questão regional, como ocorre com vários outros conflitos em andamento no mundo. Eles se tornam automaticamente questões globais. Por essa razão, a aliança entre Pequim e Moscou deixou de ser uma questão regional para ter também um alcance global já que a China apoiou a Rússia no conflito com a Ucrânia, apesar de ter conclamado os países em guerra para chamar a paz.

    A Rússia se tornará mais dependente da China. A China tentará ser mais autossuficiente economicamente.

    Transportes marítimos e logística

    As empresas de transportes marítimos internacionais bloquearam qualquer passagem pelos portos dos dois países. Os custos do transporte marítimo serão acrescidos em função da guerra e a logística se tornará mais complicada para escoamento dos produtos russos.

    Consequências para o Brasil

    Infelizmente, o conflito terá um efeito negativo em um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira, o agronegócio. 85% de todos os fertilizantes utilizados na agricultura são importados, e cerca de 24% vêm da Rússia e 3% de Belarus.

    A dependência é significativa. Por isso a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento visitou o Irã para diversificar os fornecedores e encontrar parceiros naquele país. Mas, mesmo assim, não se pode esperar que o abastecimento não seja comprometido e os preços subam, afetando diretamente os preços dos alimentos e causando inflação no Brasil.

    Por não ser membro da OTAN, o Brasil não vai bloquear exportações para Rússia ou Ucrânia, mas é evidente que haverá dificuldades quanto ao transporte marítimo. Mas se há algum consolo para países como Brasil e Argentina, que serão prejudicados pela alta volatilidade cambial e pela inflação, é que o aumento dos preços das commodities pode trazer ganhos adicionais aos exportadores.

    Ainda assim, se formos fazer uma conta de ganhos e perdas do ponto de vista econômico, sem esquecer o aspecto humano, que certamente é trágico, as perdas, especialmente pelas incertezas geradas, são muito maiores que os ganhos, especialmente em um mundo que mal se recuperava de uma pandemia e que ainda lida com o caos logístico que ela causou.

    IMAGEM: Willian Chausse/DC

    Por Michel Abdo Alaby – Diário do Comércio